Como psicólogo
não posso deixar de perceber como a personalidade do médium vai sendo
moldada com o desenvolvimento das incorporações, como sutilmente vai
modificando o interno do médium com o decorrer do tempo. Muitos já me
perguntaram porque na Umbanda não tem um trabalho de preparo íntimo para
os médiuns, porque os dirigentes simplesmente desenvolvem os médiuns e não
preparam seus íntimos.
Penso que os
dirigentes deveriam desenvolver um trabalho de desenvolvimento interior dos
médiuns, com raras exceções, a maioria dos terreiros não há uma preocupação em
desenvolver um trabalho específico para a melhoria do íntimo dos médiuns. Mas
ao refletir sobre o assunto percebi que este trabalho é realizado de forma silenciosa
pelos guias espirituais.
A reforma íntima
do médium acontece na incorporação e nos contatos com os Guias.
A possibilidade de trabalhar várias linhas diferentes, permite ao médium a
possibilidade de incorporar à personalidade o princípio do arquétipo que rege a
linha. Assim ao incorporar um preto velho ou preta velha, o médium vai
desenvolvendo em si a paciência, a bondade, o carinho, a empatia, o amor,
a compreensão ao outro. Se estas características já eram uma tônica no seu ser,
então aprimora ainda mais estas qualidades, trazendo a tona uma energia
amorosa, que flui naturalmente em si, permitindo que as qualidades do guia
possam fluir naturalmente. Quando estas qualidades não estão desenvolvidas o
guia vai aos poucos incutindo no médium estas qualidades até que possa
fluir naturalmente. A consciência destas possibilidades de aprimoramento, pode
facilitar a entrega do médium ao seu preto velho ou preta velha, mais o seu
chacra cardíaco vai se abrindo permitindo uma intensa luminosidade no seu ser.
Ao incorporar um
caboclo ou cabocla, o médium aprende a ordem, a disciplina, o ritual, a
eficiência do trabalho, a priorizar o que é importante, a trabalhar com ervas,
com os vegetais, com as pedras, a quebrar demandas, sempre sem falar muito,
somente o necessário, sem querer aparecer, trazendo uma força grande em si,
aprende a conhecer o seu próprio poder, a força que possui. O arquétipo dos
caboclos e das caboclas é o do poder da luz, no auxílio ao humano, aos
espíritos em evolução, e saber que tem força interna, suficiente para suportar
as provações que certamente o médium passará, assim cada caboclo vai aos poucos
moldando a energia do seu médium, tornando o disciplinado, atento a
ritualística, ao companheirismo aos seus irmãos que sofrem, e suportando em si
muitas vezes as dores do outro. Aprende a resignação quando recebe os ataques
em decorrência do seu trabalho mediúnico, aprende que ao suportar as
aflições sem reclamar dos guias, está fortalecendo seu íntimo, criando uma
estrutura psíquica forte em si com capacidade, de relacionar com os adventos da
vida de forma harmoniosa. Os baianos trazem a descontração, o aprendizado de
como trabalhar as adversidades, a alegria, a flexibilidade, a magia, a
brincadeira sadia.
Assim médiuns
que são introspectivos, quando incorporados em seu baiano ou baiana, soltam-se
liberando sua alegria interna, a descontração. Outros, já são descontraídos por
natureza, e desenvolvem outras qualidades junto com seu baiano, como a
flexibilidade diante das situações, como amparar o irmão com alegria, trazer a
alegria para o próximo. Transmutando a tristeza do outro transmitindo alegria e
esperança. E muitas outras coisas aprendemos com os baianos. Descubra o que o
seu baiano está aprimorando em você.
Os ciganos
também aprimoram seus médiuns, trazendo a suavidade, a beleza,
o encantamento, o envolvimento, a intuição, a paixão pela vida, pelo belo,
pela música, a cura. Os marinheiros permitem aos médiuns, desenvolverem o
equílibrio emocional, entrar em contato com as emoções mais íntimas
desbloqueando e liberando os excessos, os vícios. Desenvolvendo no médium a
capacidade de sentir as dores dos outros e com isso aprimorando as
relações com o seu irmão. Os boiadeiros trazem para o médium a força necessária
para caminhar no mundo, para lidar com as adversidades da vida,
fortalecendo-o diante do mundo, mostrando que a luta sincera, o bom combate,
leva a luz. A linha do grande oriente, onde incorporam guias orientais, hindus,
mulçumanos, chineses, entre outros, estimula no médium o caminho da evolução
espiritual através dos estudos, da meditação, do conhecimento das leis divinas,
do amor, da verdade, da ciência, da arte, do belo. Estimula no médium o caminho
da ascensão espiritual, fazendo-o eliminar da sua vida tudo o que é pernicioso.
Exú e
Pomba-gira, trazem a tona a sombra do médium, aquilo que necessita
ser trabalhado e está escondido no seu ser. A ganância, a soberba, a ira,
o ciúme, os medos indizíveis, o orgulho, o perfeccionismo entre outras coisas.
Exú tem a capacidade de espelhar o que está no íntimo do médium, mostrando o
que está no seu interior. E só perceber como seu Exú ou Pomba-gira e terá uma
pista do que traz no seu íntimo. O trabalho com a própria sombra é facilitado
com a incorporação dos Exús e Pombagiras. Assim quando o médium diz: meu Exú é
galanteador, é importante o médium ver o quanto traz de Don Juan. Quando a
Pomba-gira é indisciplinada, o quanto o médium tem de rebeldia não trabalhada.
Exús orgulhosos, médiuns necessitando trabalhar a soberbia, Pombagiras vaidosas
em excesso, médiuns necessitando trabalhar a vaidade. Muitas vezes também
Exú e Pomba-gira espelham qualidades íntimas dos médiuns, tais como: Exús
eruditos, médiuns que buscam o conhecimento, Pomba-gira trabalhadora, médium
esforçada, Exús guerreiros, médiuns batalhadores e assim por diante as
qualidades e defeitos dos médiuns são espelhadas por Exú e Pomba-gira. Aprendem
com eles o médium que tiver coragem de se olhar sem medo, e perguntar o que seu
guia de esquerda traz que desagrada, sem medo, pois Exú está ai pra isso mesmo,
mostrar o que não queremos esconder, trazer a tona aquilo que precisa ser
trabalhado.
José Antônio de
Souza – Psicólogo
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